Em um tempo sem tempo, existia uma nação, a nação do povo da língua oculta. Essa gente trafegava entre as linhas do não tempo, como se ajustassem o tempo daqueles que percebiam o tempo.

Nesse não tempo, pairava a quietude de um tempo de muita alegria, onde só existia harmonia. Lá, no tempo sem tempo, o Senhor do Agora resolveu sentir o tempo passar, resolveu navegar na barca que cortava as linhas do não tempo e desembarcar em terras que pareciam promissoras, onde, o tempo não se limitava a passar, todavia, limitava os dias da vida de viver. Foi quando, o Senhor do Agora, encontrou com o Senhor Bigode de Metal, um apanhador de sonhos; apanhava-os e guardava-os na mala que carregava. Bigode de Metal, um homem muito mau, vil na ligeireza de seus tic-tacs, que não gostava de parar, não esperava a alegria plantar risadas em nenhum lugar, arrastava-as como se as puxasse com as correntes pesadas das desilusões.

O Senhor Bigode de Metal era um homem muito mau, por onde passava cortava, arrancava pelas raízes as alegrias já semeadas, já brotadas e as vezes prontas para serem colhidas.

Começavam as folias de panapaná que coloriam as manhãs ensolaradas. Aí, logo os dias se escureciam, e acompanhado de noites frias, lá vinha o Senhor Bigode de Metal, com passos largos e trotados, fazendo badalar o sino pendurado em seu peito e tapando o pôr do sol e findando com a festa do final do dia. No crepúsculo. ele sempre apanhava as fantasias…

O Senhor do Agora, vendo tamanho abuso do Senhor Bigode de Metal, resolveu parar os seus tic-tacs. Foi quando, o vil apanhador de sonhos se viu sem seu espaço, sua outra metade que também era o outro limitador de fronteiras das realizações.  Só assim que, então, aquele mundo que jaz tão limitado pelo tempo e espaço, se viu expandir, e seguiu expandindo, cada vez mais e mais; então os dias se tornaram sempre ensolarados e o colorido dos bandos de panapanás voltaram revoando em arco-íris, até em noites estreladas.

Acabaram se as fronteiras que limitavam as fantasias, com os sonhos e suas realizações. E todos neste mundo, que ora não se prendiam mais pelo tempo e pelo espaço, seguiram com seus dias felizes, pairados na fragrância do ar por onde se percebiam.

O Senhor que habitava o não tempo, em sua língua oculta, fazia se decifrar, se decifrava aos ouvidos daqueles que se aquietavam, que se faziam planar na quietude. E o Senhor do Agora, seguia na barca cortando as linhas do não tempo, checando os traços de vida por onde ancorava. Se ouvisse o som de pesadas correntes se arrastando, não hesitava em averiguar… Mas o tempo teimava em se arrastar…

O que se fez decifrar, navegou por linhas sem fim, incansáveis retas, curvas, curvas sinuosas, se dividindo nas bifurcações, mas fez questão de viajar por toda vastidão. Sabia que acharia os Senhores do sentido dos dias. Eles nunca desistiam.

O barco parou de súbito, se viu diante das agonias, era a turbulência que, veio como um açoite na ventania, na costumeira correria, frenética correria, procurava pelo o Senhor Bigode de Metal, precisava atropelar os sentidos distorcidos das visões, turvas visões que escorriam no Nada dos Sentidos.

O Nada dos sentidos, não estavam nem um pouco interessado em decifrar enigmas e muito menos se interessava em planar na quietude da plenitude. Se entregou e escorria com agonia, o vento turbulento levou consigo o Sentido de Tudo, que lhe traziam a alegria.

E mais uma vez o Senhor que habita o não tempo coçou suas conexões, balançou suas ideias, acendeu as luzes de alerta e ancorou para mais uma missão…

E assim seguiam os dias, dias longos, os não dias do não tempo.

Selma G. Santana